“O passeio,
escreveu Maurício no alto da página. Depois, na linha de baixo: composição.
Mordiscou a ponta do lápis, os olhos postos numa mosca que esvoaçava em torno
dele. Em voz baixa, repetiu o título, destacando bem as sílabas: o-pas-sei-o.
Desenhou uma margarida entrelaçada na primeira consoante. Bocejou. Mordeu o
lápis com mais força. Afastou-o e ficou olhando as marcas fundas na madeira.
Passeio. Procurou lembrar de algum que tivesse feito. Não conseguiu. Melhor
inventar. Um passeio de barco onde fossem todas as pessoas que ele conhecia. E
as pessoas que ele não gostava fossem ficando pelo meio do caminho, morrendo
afogadas, abandonadas em ilhas, em barcos em alto mar.
Começou a
escrever os nomes dos passageiros do barco. (...) Pensou em quem chegaria ao
final da viagem. Ele, naturalmente. (...) E os outros? Afogá-los não podia. A
professora não ia gostar.”
Caio Fernando
Abreu
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