segunda-feira, 17 de junho de 2013

A incrível "anônima" Vera N W...



                                                        Fotografia: Polianna Souza


“Oi, quer que eu escreva alguma coisa para me conhecer melhor? Que tal eu contar um episódio dentro das minhas aventuras no Japão? Ganhei uma bolsa de estudos e justamente quando estava lá estudando começou a guerra entre Japão e Estados Unidos. Me aconselharam, como aos todos estrangeiros, sair logo do Japão, porque já começaram os bombardeiros. Mas eu nem pensei em sair de lá, porque queria mais uma vez me sentir encantada com cerejeiras que começavam a florescer. É um espetáculo deslumbrante, fantástico: tudo em volta fica cor-de-rosa (as cerejeiras quase não tem folhas, só flores. Em japonês cerejeira é SAKURA). As colinas, os templos, as casas, as ruas – tudo fica cor-de-rosa. Você caminhava em cima do tapete incrível cor-de-rosa. Turistas do mundo inteiro vão ao Japão nesta época para ver a beleza encantadora das cerejeiras. Bombardeiros já começaram, uma bomba caiu ao lado do nosso Instituto.
Mas fiquei até o último navio que já foi todo camuflado, escuro, porque o mar foi minado e bombas caiam de cima. Arrisquei a vida mas consegui mais uma vez apreciar as cerejeiras florescendo!
Não sei se faria isso agora (mesmo que não tivesse 90 anos). Mas foi uma empolgação juvenil e também gosto demais coisas bonitas e boas.
PS: Escrevi porque me pediram, apesar de não entender muito bem o que isso tem a ver com meu fêmur quebrado e meu coração palpitando.”

Vera N. W., aos 92 anos 
(transcrito como ela, que era russa, escrevia)



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