“Oi, quer que
eu escreva alguma coisa para me conhecer melhor? Que tal eu contar um episódio
dentro das minhas aventuras no Japão? Ganhei uma bolsa de estudos e
justamente quando estava lá estudando começou a guerra entre Japão e Estados
Unidos. Me aconselharam, como aos todos estrangeiros, sair logo do Japão,
porque já começaram os bombardeiros. Mas eu nem pensei em sair de lá, porque
queria mais uma vez me sentir encantada com cerejeiras que começavam a
florescer. É um espetáculo deslumbrante, fantástico: tudo em volta fica
cor-de-rosa (as cerejeiras quase não tem folhas, só flores. Em japonês
cerejeira é SAKURA). As colinas, os templos, as casas, as ruas – tudo fica
cor-de-rosa. Você caminhava em cima do tapete incrível cor-de-rosa. Turistas do
mundo inteiro vão ao Japão nesta época para ver a beleza encantadora das
cerejeiras. Bombardeiros já começaram, uma bomba caiu ao lado do nosso
Instituto.
Mas fiquei
até o último navio que já foi todo camuflado, escuro, porque o mar foi minado e
bombas caiam de cima. Arrisquei a vida mas consegui mais uma vez apreciar as
cerejeiras florescendo!
Não sei se
faria isso agora (mesmo que não tivesse 90 anos). Mas foi uma empolgação juvenil
e também gosto demais coisas bonitas e boas.
PS: Escrevi
porque me pediram, apesar de não entender muito bem o que isso tem a ver com
meu fêmur quebrado e meu coração palpitando.”
Vera N. W., aos 92 anos
(transcrito como ela, que era russa, escrevia)
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